Crónica

O Amor em Portugal

Miguel Esteves Cardoso é um conhecido cronista português. Nos seus textos, fala muitas vezes sobre Portugal, o dia a dia das pessoas e o que significa ser português. Escreve com humor, emoção e um estilo muito pessoal. Mostra carinho pelo país, mesmo quando o critica. As crónicas ajudam-nos a conhecer melhor Portugal e a forma de pensar dos portugueses.

O Amor em Portugal (versão A2)

Em Portugal, o amor é diferente.

As pessoas não gostam muito de dizer “Eu amo-te”. É uma frase difícil de dizer. Por isso, preferem dizer “Estou apaixonado” ou “Gosto muito de ti”. Mas estas frases não são exatamente iguais.

A palavra “amante, em português, não quer dizer só “pessoa que ama ou é amada”. Muitas vezes, quer dizer algo negativo, como uma relação secreta ou fora do casamento.

Também usamos mal outras palavras:

  • “Amoroso” não quer dizer “com muito amor”, mas sim “simpático” ou “querido”.
  • “Amável” não quer dizer “que pode ser amado”, mas apenas “educado” ou “gentil”, e usamos quase sempre no passado: “Foi muito amável da sua parte”.

A palavra “amor” é usada para muitas coisas. Dizemos que uma casa é “um amor” ou que um empregado do café é “um amor”. Mas isso tira o valor à palavra.

Outra coisa estranha em Portugal: muitos homens têm vergonha de dizer “namorada”. Quando apresentam a namorada a alguém, dizem só “É uma amiga minha”. Assim parece que têm muitas namoradas. Isso é mau para o amor… e também para a amizade.

Mas quando estão sozinhos com a namorada, esses homens mudam. Ficam muito românticos, falam de amor, dizem frases doces e até choram. As namoradas muitas vezes não percebem esta mudança. Acham que eles são confusos: duros em público, meigos em privado.

Tudo isto mostra que os portugueses têm vergonha de falar de amor em público. Mas, quando estão sozinhos, dizem muitas coisas emocionadas. Seria bom se as pessoas em Portugal pudessem usar as palavras do amor de forma clara.

Miguel Esteves Cardoso, adaptado de ‘A Causa das Coisas’