Crónica

A mulher portuguesa

Miguel Esteves Cardoso é um conhecido cronista português. Nos seus textos, fala muitas vezes sobre Portugal, o dia a dia das pessoas e o que significa ser português. Escreve com humor, emoção e um estilo muito pessoal. Mostra carinho pelo país, mesmo quando o critica. As crónicas ajudam-nos a conhecer melhor Portugal e a forma de pensar dos portugueses.

A mulher portuguesa  (texto adaptado ao nível A2)

A mulher portuguesa é muito forte. Trabalha muito, sabe muito, quer fazer mais e consegue fazer mais. Não é só dona de casa. É também uma mulher livre, difícil de controlar. Em muitas coisas, é melhor que o homem português.

Mas, mesmo assim, os homens recebem mais dinheiro do que as mulheres. Às vezes, elas não recebem nada.

O maior problema dos homens portugueses é pensarem que são melhores do que as mulheres. Mas a mulher portuguesa não liga a isso. Ela sabe que isso não é verdade. Quando o homem fala de “os homens são assim” e “as mulheres são assado”, a mulher diz: “Depende.”

A mulher portuguesa entende bem os homens. Mas isso não quer dizer que aceite tudo. Quando fica indiferente, é sinal de que já não tem paciência. E quando perdoa, normalmente é porque já não acredita no homem.

A mulher portuguesa muitas vezes tem pena dos homens. Cuida deles como cuida dos filhos ou dos animais. Ela pensa: “Coitado, ele não sabe fazer melhor.” Mas também se diverte com eles. Às vezes, gosta deles sem saber porquê. É uma coisa do corpo, não da cabeça.

Se a mulher portuguesa usasse só a cabeça, talvez nem quisesse namorar com homens. Mas há algo mais forte que a razão. Por isso, ela fica com eles, mesmo sabendo que vão dar trabalho. É como fumar: sabe que faz mal, mas mesmo assim fuma.

Os homens, pelo contrário, precisam muito das mulheres. Sem elas, sentem-se perdidos. Às vezes pensam que mandam em casa. Dizem: “Eu é que mando.” Mas, na verdade, quem decide as coisas importantes é a mulher. Ela deixa que o homem pense que manda, só para ele ficar contente.

A mulher portuguesa sabe muito bem o que faz. E, quando se zanga a sério, é melhor ter cuidado. Ela não grita só por gritar. Se diz que vai fazer, faz mesmo.

No fundo, muitos homens gostavam que as mulheres fossem mais fracas, mais calmas, mais “boazinhas”. Mas a mulher portuguesa é uma leoa. E quando ruge, assusta.

Miguel Esteves Cardoso, in ‘ A Causa das Coisas ‘